Qual será a matéria-prima do grande homem?

Tenho para mim que é a coragem, e a defino:  a  coragem de ser,  escolher-se no mundo e nele definir seu papel. O homem é as suas ações. O mais corajoso de todos é o que renuncia aos interesses de sua classe de origem para dedicar-se à revolução dos humilhados e ofendidos. Aytan está nesta categoria: pensador inquieto, engajado, intelectual orgânico da classe trabalhadora na melhor tradição gramsciana, colocou sua vida – e sua vida é sua grande obra, o orgulho de seus amigos — a serviço dos condenados da terra, os homens  e   mulheres, os pobres e os negros que sofrem, e em todo o mundo,  as dores da sociedade de classes. Chega aos 80 anos acreditando no processo histórico, lutando por apressá-lo, mirando a utopia possível da revolução socialista  que se afasta de nossa geração, sem no entanto arrefecer seu ânimo.

Pensador, fez da militância – diária, sistemática, permanente, incansável, em casa, na sala de aula, no laboratório e na pesquisa, na rua, no sindicato, na luta partidária – o seu magistério quase sacerdócio.

Este homem corajoso é também um homem meigo, nada obstante seus rompantes, suas fúrias santas, leal às ideias e aos amigos, magnânimo, desprendido, caridoso sem ser piegas.

Mas é igualmente um homem de sorte, de muita sorte: os fados que tecem os estranhos encontros da vida, os desígnios dos deuses e dos olimpos inescrutáveis,  deram-lhe Helenita, a companheira de toda a vida.

Digo essas coisas com absolta autoridade, pois sou amigo de Aytan há quase 70 anos, quando, mal entrados na adolescência, nos conhecemos, no Colégio Farias Brito, na hoje nossa tão distante Fortaleza. Passados tantos anos, posso dizer que ele é meu amigo do peito.

Beijo ao Guilherme, Fabiano e Bebel, os sortudos desta história.

Rio, 21 de abril de 2019