por: Laura Carvalho
“Nunca na história desse país um presidente perdeu tantos colaboradores em tão pouco tempo por motivos tão pouco louváveis”, resumiu Elio Gaspari em sua coluna de 1º de março nesta Folha. A unanimidade do Fora, Temer nos blocos de rua país afora indica, por outro lado, que a impopularidade do presidente vai além: após quase um ano de intensa propaganda do governo, fica cada vez mais evidente sua incapacidade de enfrentar a crise.
A solução dos problemas econômicos do país parecia ser a única saída para um governo ilegítimo e cada dia mais exposto aos escândalos de corrupção. O que os dados mostram, ao contrário, é que uma retomada expressiva do crescimento até 2018 é cada dia mais improvável.
Até agora, a inflação mais baixa, o início da trajetória de queda da taxa de juros básica e a aprovação da PEC do teto de gastos são os únicos elementos vendidos pelo governo como sinais de sucesso.
A reforma da Previdência, por sua vez, seria entregue ainda neste primeiro semestre.
Para os mais de 12 milhões de desempregados país afora, a taxa de inflação mais baixa não chega a ser motivo para jogar confetes. Afinal, salários e preços já vinham crescendo menos desde o ano passado em razão do próprio aumento do desemprego e do fim dos choques de câmbio e preços administrados.
Os ganhos de poder de compra daqueles que ainda têm renda crescente, por sua vez, dificilmente compensarão, do ponto de vista do impacto no consumo, a perda de renda dos que perderam seus empregos.
Quanto aos juros básicos em queda, ainda sem repercussão sobre as taxas de juros reais cobradas pelos bancos, tampouco serão suficientes para estimular o consumo e os investimentos no contexto atual.
Famílias e empresas têm dívidas acumuladas a pagar e ainda enfrentam enorme incerteza acerca de seus rendimentos futuros.
Finalmente, sem ter contribuído em nada para resolver os problemas fiscais no curto prazo, que são fruto de uma queda brutal na arrecadação, a PEC 55/241 apresenta-se mais como um obstáculo do que como uma saída para a crise econômica atual. Com a reforma aprovada, até mesmo iniciativas como a da volta da CPMF -agora defendida pelo relator da reforma tributária no Congresso-, mesmo que sirvam para cobrir parte do rombo fiscal deste ano, não poderão ser utilizadas para ampliar investimentos públicos e estimular a economia.
Uma eventual elevação de impostos também pode criar problemas com boa parte da base do governo, que desde os protestos na avenida Paulista exige não pagar o pato
da crise econômica.
Nesse contexto, o engajamento com a reforma da Previdência —cuja popularidade parece baixa até mesmo entre os parlamentares da base aliada—, o agravamento da crise nos Estados e a perda de apoio de parte do empresariado em razão da falta de perspectivas de retomada do crescimento tornam nebuloso o horizonte até 2018.
No Carnaval de 2017, o presidente Michel Temer pode ter vivido sentimentos contraditórios.
De um lado, teve de constatar a bronca dos foliões de todo o país no horário nobre do Jornal Nacional. De outro, ver um país em festa esquecer um pouco da crise e injetar algum dinheiro na economia.
Segundo estimativas da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, só na economia carioca teriam sido injetados R$ 3 bilhões pelos mais de 1,1 milhão de turistas que visitaram a cidade. “Ô quarta-feira ingrata, chega tão depressa, só pra contrariar”, alertava o clássico do carnaval pernambucano.