por: Bernardo Mello Franco
BRASÍLIA – A vaia no Maracanã foi só o começo. Desde que os atletas entraram em cena, as arenas da Olimpíada viraram palco de protestos contra o governo interino.
As manifestações têm sido reprimidas pela polícia. Em ao menos dois episódios, torcedores foram expulsos da arquibancada depois de exibir cartazes com a inscrição “Fora, Temer”.
No Rio, um homem foi retirado do Sambódromo por quatro agentes da Força Nacional de Segurança. Ele assistia ao tiro com arco ao lado da mulher e dos filhos. Seu crime: carregar um cartaz contra o presidente interino.
Em Belo Horizonte, a PM expulsou do Mineirão 12 torcedores que assistiam a uma partida de futebol. Eles exibiam cartazes em inglês contra o impeachment e usavam camisetas com letras gigantes, que juntas formavam a expressão “Fora, Temer”.
As duas ações foram filmadas com celulares e já somam mais de 3 milhões de exibições nas redes. É bem provável que estimulem novos protestos nos próximos dias.
A organização dos Jogos disse apoiar a repressão policial. “Queremos arenas limpas”, afirmou o diretor de comunicação da Rio-2016, Mario Andrada.
O comitê alegou que a Lei Geral da Olimpíada, sancionada por Dilma Rousseff, proíbe protestos nas arenas.
O texto veta cartazes “com mensagens ofensivas, de caráter racista ou xenófobo”, mas afirma que “é ressalvado o direito constitucional ao livre exercício de manifestação”.
Além de não ter amparo na lei, a mordaça olímpica contraria a Constituição.
Um ministro do Supremo disse à coluna, em caráter reservado, que a proibição de protestos pacíficos caracteriza censura. “Impedir a livre expressão num espaço público é inadmissível”, afirmou.
Nesta segunda (9), o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, defendeu a caça aos cartazes.
Felizmente, o juiz federal João Augusto Araújo discordou.
À noite, ele determinou o fim da repressão nas arenas.