Líder da Frente Brasil Popular quer a adesão de mais partidos, centrais sindicais e movimentos para retomar o trabalho de base com a população e garantir a resistência ao governo do vice Michel Temer

image_previewSão Paulo – O líder da Frente Brasil Popular e ex-ministro Roberto Amaral espera aumentar a união e capilaridade do campo progressista no país para enfrentar a nova fase que se inicia com o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência. Amaral afirmou hoje (12) que estará empenhado em fortalecer a frente, que representa cerca de 60 entidades dos trabalhadores e movimentos sociais, para retomar o trabalho de base com a população. “Vamos ampliá-la mais, e nesse movimento sair do isolamento para enfrentar o inimigo maior”, defende.

Ele diz que para fortalecer a frente, “partidos como o Psol, que estiveram na luta contra o golpe, devem se integrar à frente, assim como as centrais sindicais que ainda não estão conosco”. Amaral também afirma que a frente precisa ser expandida para todos os estados, todas as cidades, e a partir daí retomar o trabalho de conversa com a população. Mas primeiro, defende ele, é fundamental uma profunda autocrítica, e tem de começar pelo PT e pelos que dirigiram os nossos governos. “Quem não avalia seus erros do passado, está condenado a cometer (os mesmos erros) no futuro”.

Para Amaral, a unidade é a única estratégia possível neste momento, que exigirá resistência ao ataque neoliberal da economia pretendido por Michel Temer. “Eu acho que o grande caminho é o fortalecimento da Frente Brasil Popular. A pouca ou muita resistência que nós conseguimos operar nesse período se deveu à construção da frente. Em todos os momentos em que as forças populares entram em inflexão e isso corresponde à ascensão da direita, a alternativa das força populares é a política de frente, é superar as nossas dificuldades adjetivas e centrar nas coincidências substantivas”.

Crônica anunciada

Amaral diz que o impeachment é uma “crônica anunciada”. “Nada do que está acontecendo tem surpreendido a quem quer que seja que transite na política. O ato de hoje do Senado, com o de 17 de abril na Câmara, não constitui ponto de partida, nem ponto de chegada. Faz parte de um processo de golpe, um golpe de novo tipo que começa a ser instaurado no país, logo após as eleições de 2014, com a iniciativa do PSDB, na tentativa de anular a eleição, na tentativa de recontagem, e as mobilizações que se seguiram.”

O ex-ministro da Ciência e Tecnologia do governo Lula destaca ainda que o golpe é caracterizado pela associação do poder Judiciário, da mídia e setores da alta burocracia, da Polícia Federal e da Receita Federal. “Esse conluio, que tem atrás de si o grande capital, tanto o capital rentista quanto a burguesia subsidiada da Avenida Paulista, formou um bloco golpista, primeiro sitiando o governo. Temos desde dezembro um poder executivo sitiado”, observou.

“O símbolo disso foi a decisão inconstitucional do Supremo, uma decisão monocrática de um ministro sem compostura, que é o senhor Gilmar Mendes, de impedir a presidência da República de nomear o seu ministro, que é uma atribuição da Presidência”, afirma Amaral, referindo-se à suspensão da nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil. “Isso aí foi uma declaração de adesão do Supremo ao processo golpista”, afirma.

Outro elemento que revela o apoio do STF ao golpe, segundo Amaral, é o comportamento do ministro Teori Zavascki, que esperou cinco meses para julgar o afastamento do presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “Consabidamente, esse gângster teve papel decisivo na construção do lado jurídico do golpe. E a permanência do Cunha era fundamental para o golpe. Então, ele foi mantido. Após o golpe, a permanência dele deixou de ser necessária e ele foi afastado.”

A questão menos importante, ainda que seja a mais dramática, a deposição de Dilma Rousseff, não encerra a história, segundo avalia. “Ela é um ponto de partida para a montagem de uma nova agenda. Esse é que é o golpe. O que se instala agora é um governo, cujo programa foi rejeitado pelo povo nas eleições de 2002, 2006, 2010 e 2014. É o governo da recessão, do ajuste fiscal, da mudança da Previdência, dos interesses do capital sobre os interesses do trabalho. Será também um governo desnacionalizante, privatizante que vai destruir a política externa brasileira.”