por: Alberto Dines (do Observatório da imprensa)

Ante e depois da tentativa de assassinato do jornalista-deputado Carlos Lacerda e injustamente imputada ao presidente Getúlio Vargas, a expressão “mar de lama” saiu das manchetes dos vespertinos para o vocabulário político, acolhida pela historiografia e a retórica forense. Resgatada pelas revelações do escândalo do Mensalão (2005), voltou a ser usada na cobertura do Petrolão (2014), também agora, na palhaçada parlamentar protagonizada por Eduardo Cunha, a incrível história de um finório que já conseguiu abalar a República e daqui para a frente só poderá produzir algo muito pior.

Eduardo Cunha possui um extraordinário efeito tóxico e maculador — espalha sujeira e emanações por onde passa: poluiu as figuras-chave do seu partido, o PMDB, manchou indelevelmente o PT com quem tentou se entender para proteger a presidente Dilma Rousseff, sujou e rebaixou o empertigado PSDB que tenta animá-lo a apressar o pedido de impeachment, contaminou perigosamente a imagem do Congresso e com suas diabólicas maquinações conspurca não apenas os correligionários evangélicos, mas a própria mensagem espiritual da religião convertendo-a em sinônimo de crueldade e perfídia.

Ícone da malignidade

Comparadas com as confessadas roubalheiras praticadas pelos meliantes enroscados na Operação Lava Jato, as denúncias contra Eduardo Cunha poderiam ser avaliadas como irrisórias não fosse a malignidade inerente ao acusado. A presidente da República teme a sua imprevisibilidade, mas o perturbador perfil psicológico, as patologias atenuadas pela fala mansa das aparições televisivas e o tremendo poder de uma autoridade como presidente da Câmara Federal, criaram no cenário político brasileiro um personagem único — o homem-bomba.

Pior do que um suicida, Cunha é um paranoico capaz de acionar o seu colete com explosivos certo de que sairá incólume da explosão. O problema não é dele, de sua família ou dos amigos. O problema é nosso porque este é o arquétipo do fanático incapaz de voltar atrás, empurrado pela insana obsessão de seguir em frente.

O mar de lama que enlutou Mariana, Minas Gerais e o Brasil poderá ser removido, reparado, saneado e servir como advertência aos negligentes e omissos que cuidam da segurança e bem-estar do povo brasileiro. O mar de lama que produziu Eduardo Cunha e ainda o sustenta, embora figurado, metafórico, pode nos empurrar para o abismo.