Sou testemunho político de todo o processo de desenvolvimento orgânico e teórico do PSB, desde os anos 1985, até quando me desfiliei há mais de 10 anos.
A trajetória desse partido, entretanto, sempre foi acompanhada por mim, psicanalista, intelectual e político, militando no PT. A notável figura política de caráter probo de Roberto Amaral foi durante todos esses anos o núcleo orgânico e teórico da construção desse partido que caiu na mais deslavada corrupção teórico-programática com a nefanda votação de quarta-feira passada, apoiando o candidato Aécio Neves, seguramente representante do capital internacional e da grande burguesia paulista. A mentalidade senhorial sudestina combina-se com o coronelismo nordestino que se manifesta esdruxulamente dentro de um partido outrora socialista.
O problema político de grande número de pessoas que ingressaram na esquerda e no PSB é que são oriundos da Casa Grande e Senzala, com densidade teórica duvidosa e demasiado apetite pelo poder institucional, qualquer poder, todo poder.
Roberto Amaral, que testemunhei viajando por todo Brasil para construir com a maior dedicação esse partido certamente vive hoje como pai e mãe dessa criatura, a mais profunda decepção que um intelectual do seu porte poderia sofrer. Comparo sua postura à de Jean Paul Sartre que preferiu sempre o Ser ao Nada, embora para isso, tenha enfrentado todas as calúnias e difamações. Aliás, Roberto Amaral, tem um livro sobre este homem da história, com o título “Sartre e a Revolta do Nosso Tempo”. Contrariamente a essa coragem de Ser, o diretório do PSB traiu seu mais importante intelectual e militante.
Não entrarei em detalhes sobre todos aqueles que conheço dentro do PSB e que participaram dessa verdadeira baixaria política, porque Amaral já o fez em entrevistas para vários jornais do país. Quero apenas ressaltar, que tendo procriado essa criatura, (não chamo mais de ente político), o criador agora é agredido pela monstruosidade mutante, cuja traição não pôde controlar. A criatura como víbora peçonhenta, tenta matar o seu criador, mas isso não será possível, porque Roberto Amaral é muito maior do que todos eles juntos.
Não escrevo isso movido pela emoção do amigo, mas pela justiça que deve prevalecer na política e na história. Tenho convicção de que ao se afastar Amaral estará cumprindo a tarefa histórica de denunciar todos aqueles que no PSB enxovalharam os ideais do socialismo e aviltaram seu programa para o país que queremos. Não queremos um país de joelhos diante do mercado internacional conduzido por Washington e tampouco desejamos que prevaleça a ética do privativismo financeiro do sistema bancário sobre a moral pública na distribuição e transferência de renda para a população brasileira.
O futuro pronunciará o veredito histórico, condenando aqueles que dentro do PSB capitularam diante do altar do mercado capitalista.
Valton de Miranda Leitão
Médico Psiquiatra, Psicanalista, Militante Político e Escritor.