Mais uma vez, o povo brasileiro é convocado a decidir seu destino. Uma vez mais, estamos vivendo acirramento e radicalização das posições.

Mais uma vez, a corrupção voltou forte no debate eleitoral. Os fatos revelados nesta bem planejada e bem administrada “delação premiada” para o caso Petrobras cair em cima das eleições, tem causado perplexidade e indignação nos brasileiros e terá, certamente, impacto eleitoral. Embora os depoimentos revelados que procuram implicar os partidos do governo revistam-se de certa generalidade, mais na base do “ouvi” do que da comprovação. Mas desde já se constata: de um lado, revela que pessoas do alto estão sendo processadas e presas – ainda bem; de outro, evidencia a falta de cuidado nas alianças políticas e a ausência de maior controle e vigilância para prevenir tais coisas.

Embora devamos expressar toda nossa indignação cívica e moral diante de tais acontecimentos, alguma cautela é necessária. Lembremos de alguns exemplos de como o conservadorismo, a direita e seu maior instrumento de ação política em diversos episódios de nossa história, que são os jornais, rádios e televisão, procuraram ganhar o poder no Brasil por meios não democráticos, nem éticos:

– os acontecimentos que levaram o Presidente Vargas ao suicídio: falava-se em tanta corrupção, que era um “mar de lama”. Depois, viu-se que não era nada daquilo – queriam apenas depor um presidente;

– as reações contra a eleição e a posse do Presidente Juscelino Kubistcheck – salvo pela ação de muitos militares comandados pelo General Lott, que os juristas chamaram de “retorno aos quadros constitucionais vigentes”, seguidas de permanentes ataques durante todo seu governo. Resistiu e sobreviveu;

– a intensa campanha contra o Governo do Presidente João Goulart: diziam que era um “antro de corrupção e subversão”. Depois, viu-se que não era nada daquilo;

– na eleição de Collor, a edição do debate entre ele e Lula pelo Jornal Nacional e os ataques a Lula que envolveram sua família.

Indignação, mas cautela, para não sermos enganados.

Temos que fazer uma opção diante do que está aí posto para as eleições.

A candidatura do PSDB é porta-voz do conservadorismo brasileiro, em torno dela se reúne toda a direita, da mais raivosa que sustentou o regime militar à mais moderna, representa os interesses mais mesquinhos das elites, do capital financeiro e dos grupos econômicos nacionais. Significa o retorno das políticas neoliberais já praticadas anteriormente pelos governos do PSDB de arrocho salarial, privatizações, demissões, extinção de órgãos e redução dos gastos públicos que geraram desemprego. É ameaça de precarização e até supressão dos direitos trabalhistas, dos aposentados e servidores, avançará no terreno das terceirizações para horror do trabalhador brasileiro. Cortará os ganhos e avanços salariais – já anunciaram que o salário mínimo não pode aumentar tanto. Procurará realinhar o Brasil à política dos Estados Unidos, o que acarretará insegurança e intranquilidade para os governos progressistas na América do Sul e em outras áreas do mundo.

Os governos do PT cometeram erros, alguns graves, como as alianças danosas, desnecessárias, que agora estão a lhe custar alto preço, e o aparelhamento de órgãos que revela mais um projeto de poder do que a realização de um projeto nacional. Mas a candidatura de Dilma é a garantia da continuidade da inclusão social, de ganhos reais nos salários, da permanência da legislação trabalhista e da previdência social pública, de avanços na educação, de contenção nos juros, da atuação do Estado na economia e da permanência dos órgãos públicos, especialmente, BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica, de continuidade de uma política externa independente, de sustentação do Mercosul e dos BRICS e de alinhamento com os governos progressistas na América do Sul.

É preciso termos em mente que os setores progressistas no mundo, especialmente na América Latina, nos olham com apreensão sobre a possibilidade de retorno do conservadorismo no Brasil.

Mas o voto em Dilma há de ser crítico e exigente, em posição de continuidade da luta.

Devemos nos bater pelo aprofundamento da distribuição da renda, com aumento dos ganhos salariais, alargamento dos programas sociais e efetivação da reforma agrária em larga escala; pelo avanço na legislação trabalhista; pela educação integral ampla; pelo desenvolvimento sustentado do País, com prioridade aos micros, pequenos e médios empresários e retomada da industrialização com avanços tecnológicos e na inovação e na ciência, redução dos juros e democratização do crédito; em defesa de nossa soberania no domínio de nossas riquezas com maior zelo e de nosso patrimônio cultural; pelo aprofundamento da democracia, com participação ampla e constante da sociedade, ao mesmo tempo fortalecer o Estado para que ele possa atuar na economia e enfrentar os interesses poderosos, reforma política eleitoral e partidária para tirar a influência do dinheiro nas eleições e na política; por um sistema tributário mais justo e menos concentrador  da riqueza; pelo aperfeiçoamento das instituições para o combate a todas as formas de atentado à dignidade humana; pela democratização dos meios de comunicação de massa; aperfeiçoar as instituições de controle e combate à corrupção e fazer desta uma tarefa nacional; aprofundar a aproximação com nossos vizinhos sul americanos e africanos; aprofundar a sustentabilidade para preservação de nossa bela e encantadora natureza; alargar as oportunidades para nossa juventude cheia de sonhos e aspirações.

Devemos desenvolver nosso espírito crítico, alimentar nossos sonhos e esperanças, aguçar nossa rebeldia e audácia e confiar que o povo brasileiro se encontrará como nação nas eleições, com sua altivez, seu espírito criativo, sonhos e aspirações históricas de independência, igualdade e progresso.

O Brasil não pode voltar atrás. Com nossa participação, avançaremos.

Voto em Dilma.

Vivaldo Barbosa