Antonio Carlos Barandier, respeitado defensor de presos políticos, acaba de lançar   Relatos – Um advogado na ditadura, texto importantíssimo para a compreensão do regime militar e da necessidade de apoiarmos os trabalhos da Comissão da verdade.

577

Sinopse

“Que os criminalistas brasileiros não se limitam a arrazoar nem publicam tão somente suas arengas, é algo que já estava afirmado por uma linhagem que, para mencionar apenas alguns exemplos, remonta às reminiscências do velho Evaristo, palpita no interior da arca de guardados de Evandro, rebrilha na advocacia da liberdade de Heleno e tem nesses relatos de Antônio Carlos Barandier nova e cabal demonstração.”

Nesta observação, com que abre sua apresentação deste livro, Nilo Batista eleva Antonio Carlos Barandier ao nível dos grandes criminalistas brasileiros, dos quais ele próprio é hoje um expoente.

Antonio Carlos Barandier, neste livro, faz uma crônica ao mesmo tempo da profundidade e do cotidiano dos tempos amargos da ditadura militar, vistos pelos olhos de advogado defensor de presos políticos.

Acontecimentos marcantes da época desfilam diante do advogado: a passeata dos cem mil, o congresso da UNE, prisões, torturas. Nas auditorias da Justiça Militar, audiências, revelações, tensos julgamentos.

Em nossos dias, todos respiramos aliviados ao pensar que já não vivemos naqueles “amargos tempos que jamais devem voltar – nunca mais”, como dizia Evandro Lins e Silva no texto que dedicou à primeira edição do livro. Mas há hoje sombras que se adensam nas nuvens a nos ameaçar com o regresso àqueles tempos de trevas, e por isso é oportuna a reflexão que o livro suscita sobre aquele passado de horror.

Além disso, observa agora Nilo Batista, muito a propósito, ao finalizar sua apresentação:

“Aí está o que torna muito oportuna esta nova edição: como foi possível que a redemocratização do país resultasse numa expansão do poder punitivo como a que presenciamos, incensada diariamente pela mídia? Como foi possível que, na democracia, se mate e se torture muito mais do que na ditadura?”

“O livro retrata um período pungente e consternador de nossa história, semelhante à outra ditadura, a do chamado Estado Novo, entre os anos de 1937 e 1945, quando passei pelas mesmas agruras de Barandier, para defender os atingidos pela mesma intolerância e pela mesma estupidez do autoritarismo daquela época. O livro que agora prefacio, com o maior prazer, me faz recordar leituras recentes em torno do mesmo tema: “Advocacia da Liberdade”, de Heleno Fragoso, e “1968, O Ano Que Não Terminou”, de Zuenir Ventura. É mais um depoimento sobre as trevas que se abateram sobre o nosso país, é mais um grito de alerta a clamar contra a volta àquele passado.”

Antônio Carlos Barandier é advogado criminalista, professor de Direito Processual Pena da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, autor de várias obras no campo do conhecimento jurídico, destacado defensor dos direito humanos no Brasil.