por: Tereza Cruvinel

A prisão do ex-governador de Minas Eduardo Azeredo será muito usada como solvente contra a percepção cada vez mais sólida de seletividade da Lava Jato e do jacobinismo judiciário.

Solvente fraco, que não resiste à comparação dos danos até aqui impostos aos diferentes partidos.

Com sua candidatura sofrendo mais este baque, o presidenciável tucano Geraldo Alckmin apelou para as cores.

“A Justiça não é vermelha, azul, amarela ou verde”.

Assim deve ser mas é indiscutível que, nos tempos que correm, ela tem certo ranço com o encarnado e uma quedinha pelo azul.

Azeredo é o primeiro e mais notável preso do partido de bandeira azul mas nele já não tem importância política ou eleitoral.

Já o preso mais notável da brigada vermelha é o candidato que lidera as pesquisas e possivelmente seria eleito se não tivesse sido inabilitado pela celeridade do TRF-4 ao julgar seu recurso.

Depois disso, o tribunal pisou no acelerador e julgou só uma apelação da Lava Jato.

Já Azeredo foi condenado em segunda instância 20 anos depois do crime que lhe é atribuído.

Mais relevante que a prisão de Azeredo, para a percepção de seletividade, foi a soltura de Paulo Preto, o suposto operador do PSDB.

Ao sair, confirmou-se como um perigo ambulante: “por enquanto” não estava pensando em fazer delação.

Lá atrás já havia dito: “não se deixa um companheiro ferido na estrada”.

Não deixaram. Ele ganhou um habeas corpus do ministro Gilmar Mendes.

A severidade com o vermelho já levou para a prisão toda a cúpula do governo Lula.

Os operadores que denunciaram Dirceu, Palocci, Vacari e Delúbio mofaram em Curitiba, não conseguiram habeas corpus nem água fresca enquanto não falaram.

O ex-presidente da OAS, Leo Pinheiro, deu ao juiz Sergio Moro o melhor indício (não prova) contra Lula: disse que “ficou sabendo” ter sido o tríplex reservado ao ex-presidente.

E só o disse após ter tido sua pena aumentada, e uma proposta de delação que não incluía Lula, recusada.

Por tudo isso, a ideia da “justiça igual para todos” não habita o imaginário social.

Na última pesquisa CNT/ MDA o Judiciário sofreu uma acentuada perda de confiança como instituição.

Nem por isso, a prisão de Azeredo deixa de complicar ainda mais a candidatura de Alckmin, na medida em que o PSDB acaba se igualando, para o eleitor, ao PT e aos demais partidos na prática de financiar campanhas a partir dos negócios públicos com o setor privado.

Dizer que o PSDB não acampa na porta de penitenciária, como faz o PT, não muda isso.

Empacado nas pesquisas, o tucano é acusado de ter recebido ilegalmente R$ 10,7 milhões da Odebrecht e R$ R$ 5 milhões da CCR, valores equivalentes a uns sete tríplex do Guarujá.

Nos dois casos, o intermediário teria sido seu cunhado, Adhemar Ribeiro, cuja defesa ele tomou ontem na sabatina de Folha de S. Paulo/Uol/SBT (“casado com banqueira e simpatizante do PDSB”).

Não defendeu companheiros feridos, como Aécio Neves e Beto Richa, e jurou que os delatores mentiram.

Delatores mentem mesmo mas até que isso se prove, o leite eleitoral derrama.

MIRO: ISSO É LOCKOUT

A greve dos caminhoneiros e o avanço do desabastecimento agitaram o Senado e a Câmara.

Os governistas de hoje culpando governos passados, os petistas denunciando a política de preços da era Temer.

Fora dessa briga, o deputado Miro Teixeira advertiu na tribuna: isso não é greve.

Há informações seguras de que se trata de um lockout empresarial que pode ter objetivos políticos.

Persistindo a greve e seus efeitos, virá a repressão e a convulsão. E estará feito o prato para quem pensa em adiamento das eleições. Por sinal, parlamentares da direita foram os que mais elogiaram a valentia dos caminhoneiros.

No Senado, o líder governista Romero Jucá e o oposicionista Randolfe Rodrigues apresentaram proposta de resolução (poder exclusivo do Senado) para redução do ICMS, imposto que pesa muito mais que a Cide sobre o preço final dos combustíveis. Mas quem perderá com isso são os governadores, que certamente vão reagir.