por: Valton Miranda Leitão

Ninguém que não seja idiota poderia ser contra o combate à corrupção no mundo e no Brasil. A guerra à corrupção tornou-se em nosso país o disfarce mais absurdo para manter a fórmula de Lampedusa, “mudar tudo para não mudar nada”, o que significa que os ricos continuarão cada vez mais ricos e os pobres, mais pobres.

A corrupção grassará no lugar certo, entre sonegadores e fraudadores da Fiesp e dos grandes bancos com a benevolente cobertura do Poder Judiciário, todos irmanados com a obscena grande imprensa nacional. Como é visível, um Judiciário totalmente avassalado por sucessivas degradações da combinação Direito, Lei e Justiça, tanto no Supremo quanto no seu braço curitibano que se atribuem poderes inquisitoriais, comportando inclusive a presença do grande inquisidor.
O mais incrível e pasmoso ainda é a apresentação ao Congresso Nacional do documento Dez medidas contra a corrupção

As Moiras da mitologia grega, as irmãs fatais filhas de Moros e Anánkê ingressaram de modo muito visível no sistema jurídico-político. O Moros mitológico e sua mulher Anánkê representam a inevitabilidade cega e não pensante, enquanto suas filhas Moiras tecem, cosem e cortam vidas ao seu bel-prazer. Isso é o avesso da civilização, na qual Direito, Lei e Justiça buscam aproximação.

O seguinte trecho de artigo de Marcos Coimbra diz bem da absurdez brasileira: “Não há sintoma maior da falência das velhas elites brasileiras do que estarem completamente nas mãos de meia dúzia de juízes, promotores e delegados que parecem ignorar o bê-á-bá do direito. Depois de se verem como os mestres do universo, que tudo podiam e faziam, triste o ponto a que chegaram. Mas existe um Brasil maior, de gente menos parcial, mais capaz de respeitar a democracia e menos manipulável, assim como existem sentimentos civilizados na comunidade internacional”.

Além da colossal maluquice que coloca o Judiciário como operador de um ataque à democracia, dão suporte ao Estado de Exceção que na prática é uma ditadura comissionada. O mais incrível e pasmoso ainda é a apresentação ao Congresso Nacional, pela espetaculosa monarquia de juízes curitibanos, de um desmesurado documento denominado Dez medidas contra a corrupção.

Se Freud e discípulos como Lacan e Bion estivessem vivos, diriam tratar-se de uma tolice infantojuvenil ou arrebatamento de alucinose paranoica. O fato é que, para o observador intelectual, a balança de Têmis sumiu para ceder lugar à régua de Procusto, pois quem não couber na sua medida será fatalmente punido.

O notável escritor brasileiro Raduan Nassar denunciou a arquitetura golpista ao receber o mais alto prêmio da literatura luso-brasileira “A Comenda Camões”, mostrando o tamanho da inversão ética e política, na qual o mercado-lucro mergulhou a população.

Certamente que a linguagem do ódio não inclui todos os magistrados do País, pois muitos já perceberam o desmantelo. O mundo intelectual não pode ficar passivo diante da situação em que o Direito ataca a Democracia, enquanto a Lei é instrumentalizada para atingir objetivos políticos arquitetados no plano nacional e internacional. A Hybris arrogante é incompatível com a Aleteia da verdade!