pedroporfirioCarta de Pedro Porfírio (companheiro que vem dos tempos de movimento estudantil em Fortaleza, nos já longínquos anos 50/60), publicada hoje, dia 3 de outubro, em seu blog. É um hino de coragem, bravura e estímulo. É gente assim como Porfírio que nos faz acreditar na Humanidade. É por homens assim como o Porfírio que precisamos continuar resistindo (ra).


NÃO ESTOU TRISTE, PORQUE LUTAR É VIVER

Pedro Porfírio

Digo-lhe do fundo do coração, com toda sinceridade: não estou triste por mim, não estou mesmo. Como sempre, não foi por mim que fui mais uma vez à luta, aos 73 anos, e uma saúde em pandarecos.

Decidi pela candidatura contra minha própria lógica. Tudo porque não suportei algumas indignidades em curso – da visível destruição da profissão de taxista por uma multinacional invasora à supressão escamoteada da previdência social. 

Queria uma cidadela onde montar a trincheira em condições de ecoar o grito dos rapinados. Era tarde demais. Estou morando longe, onde o vento faz a curva – uma opção pessoal de exílio doméstico. Não tinha um tostão a mais para bancar os passos, que a disputa eleitoral, vendo por dentro, continua cara e sujeita a trapaças.

Imaginava-me um dom Quixote a devastar os moinhos do retrocesso, uma pretensão idílica dos tempos idos. Teimosia pura. Se não conseguia dar cem passos pelos jardins primaveris, como fazer-me presente na zona do agrião?

Tentei voltar atrás logo no começo. Mas não me deixaram. Prometeram-me e não entregaram. Tinha de acontecer isso mesmo.

Não havia nenhuma similitude entre eu e o prefeitável a que o PDT se atrelou por uns nacos do poder. Sabia que o alcaide vacilão operava com sua máquina  corruptora em favor dos seus escolhidos dentro da legenda satélite. Mas não havia tempo nem vontade de sair outra vez da criatura de Brizola que virou as costas ao seu criador.

Percebia também que certas categorias agem como se conformadas com o inferno em que se acham. Tentei alertar a alguns sobre a realidade adversa. Mas não foram muitos os que tiveram clareza para discernir. Alguns são cabeçudos, mesmo. Preferem a mentira que lhes alimente as ilusões.

Felizmente, na escolha dos prefeitos a máquina enguiçou. Haja o que houver no segundo turno, o trono dos piores hábitos já despencou. Foi a melhor compensação e a luz no fim do túnel de quem um dia conviveu com a cara e a coragem de um caudilho determinado, que não se vendia, não cedia e nem se rendia.

Vou ter que retomar os vários tratamentos – do câncer encurralado à obesidade danosa. Da diabete antiga à diverticulite recente. Da visão e da audição. E de mais um monte de coisas que compõem a antessala da tragédia fatal.

Mas enquanto vida eu tiver, estarei atento, mesmo nesta vargem longínqua. E continuarei esperneando, mesmo com as cãibras nas pernas.

Porque lutar é viver. É minha única forma de sobreviver a toda e qualquer tempestade.