clovis

Acabei de ler, estarrecido, o post de Paulo Nogueira no Diário do Centro do Mundo onde ele reproduz um trecho do livro ‘Devaneios sobre a atualidade do Capital’, do professor Clóvis de Barros Filhos, muito conhecido na internet pelo seu jeito desabrido e coloquial de falar.

Ele narra a sem-cerimônia ter presenciado William Bonner liga para o Gilmar Mendes, no celular, e pergunta. ‘Vai decidir alguma coisa de importante hoje? Mando ou não mando o repórter?’. ‘Depende. Se você mandar o repórter, eu decido alguma coisa importante.’”

Típico diálogo de chefe e subordinado, embora não se saiba quem é que na história.

Parecido com o que, há muitos anos, vi em minha carreira ser travado entre chefe de reportagem e “setorista”, aquele repórter que ficava “fixo” numa sala de imprensa para cobrir alguma área específica.

Em qualquer país do mundo, uma revelação destas provocaria um furor, especialmente na mídia, entre diretores e editores de jornal.

Ninguém pode pensar no histórico editor do NYT, Ben Bradlee, ligando para o juiz conservador Antonin Scalia – ps dois morreram não faz muito – e perguntando: “e aí, o que temos para hoje”?

Os primeiros a gritar seriam os outros veículos de comunicação. Como competir com quem atropela todas as formalidades e fala com um Ministro do Supremo – para usar a expressão consagrada por Joaquim Barbosa – como se estivesse “falando com um de seus capangas lá do Mato Grosso”?

Chegamos ao ponto em que um jornalista, Josias de Souza, reproduz um diálogo espantoso -também descrito em livro – entre o falecido Saulo Ramos, ex-consultor jurídico e ex-ministro da Justiça do governo de José Sarney e o decano do STF, Celso de Mello, que vai literalmente transcrito:

— Doutor Saulo, o senhor deve ter estranhado o meu voto no caso do presidente.

— Claro! O que deu em você?

— É que a Folha de S.Paulo, na véspera da votação, noticiou a afirmação de que o presidente Sarney tinha os votos certos dos ministros que enumerou e citou meu nome como um deles. Quando chegou minha vez de votar, o presidente já estava vitorioso pelo número de votos a seu favor. Não precisava mais do meu. Votei contra para desmentir a Folha de S.Paulo. Mas fique tranquilo. Se meu voto fosse decisivo, eu teria votado a favor do presidente.

— Espere um pouco. Deixe-me ver se compreendi bem. Você votou contra o Sarney porque a Folha de S.Paulo noticiou que você votaria a favor?

— Sim.

— E se o Sarney já não houvesse ganhado, quando chegou sua vez de votar, você, nesse caso, votaria a favor dele?

— Exatamente. O senhor entendeu?

— Entendi. Entendi que você é um juiz de merda.

São eles que se ofendem com uma gravação grampeada de Lula, onde se diz que o Supremo está acovardado doante da mídia?

O “setorista” e o “juiz de merda”, que nunca contestaram o que foi publicado em livros?

Dêem isso para algum magistrado estrangeiro ler e ele não acreditará, achará que os livros foram impressos apenas para fins de contrapropaganda.

Não lhes passa pela cabeça que um juiz se preste a esse papel e, muito menos, que não reaja a tal desqualificação.

Leia o post de Paulo Nogueira, de preferência com algum antiemético, para o caso de sentir náuseas.

Finte: Tijolaço