Porto Alegre sediou (dias 19-22) o Fórum Social Temático-2016, comemorativo da reunião inaugural do Fórum Social Mundial realizada em 2003, naquela cidade. Como nas demais oportunidades, o Fórum, que contou com a presença de milhares de militantes vindos de todos os Estados brasileiros, representações dos movimentos sociais e delegações de inumeráveis países, foi aberto com uma caminhada que agregou mais de 15 mil participantes e percorreu o centro da capital gaúcha. A crise política e os desafios abertos à esquerda brasileira estiveram presentes, constituindo seu pano de fundo, nas muitas atividades — conferências, seminários, mesas-redondas— que constituíram essa versão do Fórum. Assim, no dia 20, no auditório Araújo Viana reuniram-se mais de mil pessoas atraídas pela mesa ‘Democracia e desenvolvimento em tempos de crise e golpismo’. Dela participaram, entre outros, o senador Roberto Requião, o presidente do PT, Rui Falcão e Roberto Amaral.
Para Roberto Amaral a direita latino-americana aceita quase-tudo, até desenvolvimento e democracia, conquanto não venham acompanhados seja da emergência das classes populares, como pretendeu o Brasil de João Goulart e Lula, seja da defesa da soberania, como lá atrás, o segundo governo Vargas. Nada de desenvolvimento autônomo, como pretenderam o Chile de Allende e a Venezuela do mal assimilado bolivarianismo. Democracia, até que sim, conquanto que preservada a dependência. Só isso pode justificar a unanimidade favorável a Magri, a mesma que acompanhou os últimos governos colombianos, e a unanimidade contra Rafael Correa e Evo Morales.
E a unanimidade contra Dilma e contra o que ideologicamente é chamado de ‘lulismo’ ou ‘lulopetismo’.
Por que a unanimidade contra Dilma se seu governo, como os dois anteriores de Lula, não ameaçaram nenhum postulado do capitalismo, não ameaçaram a propriedade privada, não promoveram a reforma agrária, não promoveram a reforma tributária (antes se compuseram com o capital rentista), por que esse ódio vítrio se sequer ousaram nossos governos regular os meios de comunicação? Os governos do PT não tocaram nas raízes do poder; não alteraram as relações de produção. O Estado brasileiro de 2016 é o mesmo que herdaram em 2003, e os dono do poder são os mesmos: o sistema financeiro, os meios de comunicação de massas vocalizando os interesses do grande capital, o agro-negócio e as fiespes da vida. Ocorre que, se foram tão coniventes com o grande capital, ousaram promover a ascensão das massas e intentar um projeto de desenvolvimento autônomo, mesmo dentro dos marcos da globalização e do capitalismo, mas autônomo em face do imperialismo. Assim, negando o comando monetário do FMI, negando a ALCA e fortalecendo o Mercosul, esvaziando a OEA e promovendo a CELAC (Comunidade de Países da América Latina e Caribe), e, audácia das audácias, tentando constituir-se em bloco de poder estratégico no Hemisfério Sul, com sua influência na América do Sul e a aproximação com a África.
Roberto Amaral