‘Cunha cometeu o escárnio de afirmar que sua decisão é técnica e não política’

por: Jorge Bastos Moreno

BRASÍLIA — A relação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, com a presidente da República sempre foi de cão e gato. Quando ele se candidatou a líder do PMDB na Câmara, pediu o apoio do governo, com a ajuda do vice Michel Temer. E conseguiu esse apoio prometendo fidelidade ao Palácio do Planalto.

Logo no primeiro momento, porém, Cunha traiu o governo e encaminhou uma série de projetos contrários aos interesses do Executivo. Em fevereiro, quando se elegeu presidente da Câmara, Cunha contou com o discreto apoio do Palácio do Planalto, apesar de o PT ter lançado candidatura própria. Em troca, prometeu encaminhar todas as matérias de interesse de Dilma.

Mas o que se viu em poucos meses no cargo foi exatamente o contrário: uma série de pautas-bomba, que até hoje dominam a discussão no Legislativo. Já na metade do mandato, o presidente da Câmara, numa decisão inédita na História republicana, anunciou seu rompimento com o governo, motivado pelas primeiras denúncias que davam conta de irregularidades cometidas por ele no âmbito da Lava-Jato. Eduardo Cunha atribuía todas as ações do Ministério Público Federal à interferência do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Nessa relação, Cunha várias vezes exerceu o papel de escorpião. Com a investigação da Lava-Jato chegando à porta do Palácio do Planalto, foi a vez de Dilma fazer o papel de escorpiã, pedindo carona nas costas do sapo Eduardo Cunha para, juntos, atravessarem a lagoa de lama.

No momento em que as coisas se agravaram para os dois, Dilma prometeu ajudá-lo com os votos do PT no Conselho de Ética, mas a pressão das bases petistas, aliada a uma nota do presidente do partido, Rui Falcão, explodiram esse projeto. E Dilma foi obrigada a dar a ferroada definitiva no presidente da Câmara.

Cunha, ao anunciar a decisão de acolher o pedido de impeachment, cometeu o escárnio de afirmar que sua decisão é técnica e não política. Não é uma coisa nem outra. Apenas vingança.

Fonte: O Globo