Rio de Janeiro, cinco de agosto de 2015
Prezados colegas:
Em mensagem enviada em 15 de julho ao Prof. João Jornada, Presidente do Inmetro, solicitei que encaminhasse formalmente ao Ministro de Estado Chefe da Casa Civil da Presidência de República, como previsto nas normas gerais de organização do estado Brasileiro, meu pedido de demissão, em caráter irrevogável, a partir de um de agosto de 2015, do cargo de Diretor do Inmetro. Não poderia deixar de enviar uma mensagem aos colegas com os quais interagi ao longo dos últimos oito anos em que atuei como Diretor do Inmetro e que tanto apoiaram todas as ações realizadas. Faço a seguir alguns comentários que, a meu ver, justificam o afastamento de função de direção na instituição.
1. Cabe registrar que foi com muito prazer que em 2007 aceitei o honroso convite feito pelo colega João Jornada, Presidente da instituição, de assumir o cargo de Diretor do Inmetro, inicialmente como Diretor de Programas, para organizar a área de Ciências da Vida até então inexistente no Inmetro, bem como promover uma maior articulação da instituição com o setor acadêmico. Creio que tivemos sucesso nesta empreitada uma vez que com o seu apoio integral foi possível (a) implantar três cursos de pós-graduação (sendo dois de Mestrado e Doutorado) na instituição, (b) construir uma infraestrutura física significativa, principalmente com recursos obtidos junto à FINEP, (c) equipar os laboratórios com vários equipamentos de médio e grande porte, majoritariamente obtidos com recursos de projetos e (d) congregar na área biológica seis membros da Academia Brasileira de Ciências dando efetiva contribuição em vários projetos e que ajudaram a projetar o Inmetro no cenário científico, situando-o em 2014 entre as dez mais importantes instituições da ciência fluminense. Foi possível ampliar significativamente o programa de bolsas da instituição através de convênios que estabelecemos com a FAPERJ e a CAPES. Criamos ainda um novo programa de bolsas próprio do Inmetro, o PRONAMETRO. O relatório da Dimav no período 2007-2014, que será divulgado internamente nas próximas semanas, deixará claro o que foi realizado. Nada seria possível sem contar com o apoio da Presidência e colegas diretores do Inmetro, bem como de todos os setores da instituição com os quais interagimos ao longo dos últimos oito anos.
2. Deixo claro que minha saída da direção não significa um rompimento das minhas relações com o Inmetro. Pelo contrário, terei mais condições de ajudar no componente científico da instituição concluindo ao longo dos próximos anos alguns projetos de médio e grande porte que coordeno e que envolvem várias instituições.
3. Cabe uma explicação sobre os fatores me levaram a pedir demissão do cargo exercido. São vários, como explicitados a seguir em uma ordem aleatória. Nenhum deles per se constitui razão fundamental. O conjunto, no entanto, justifica no meu entendimento o pedido de exoneração do cargo. Primeiro ressalto que considero oito anos como o tempo máximo de atuação no mesmo cargo de direção. Assim procedi na posição de Reitor de duas universidades públicas e na Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia. Segundo, nos últimos anos tive sérios problemas de saúde que me levaram (a) à perda de visão do olho direito, (b) ao aparecimento de um contato íntimo entre uma artéria e um nervo no sistema nervoso central que provoca contrações involuntárias da musculatura Peri-orbital e facial, e (c) redução significativa da vascularização cardíaca que levou à necessidade de implantação de cinco stents. Em praticamente todos estes problemas a recomendação médica sempre indica diminuição de stress, o que é impossível com a ocupação de cargos de direção. Terceiro confesso a minha profunda decepção com a atitude da área econômica do governo que no presente ano estabeleceu tetos orçamentários incompatíveis com as necessidades do Inmetro como instituição que atua em vários setores e que vem arrecadando recursos crescentes. Uma atitude inteligente seria estabelecer um percentual de retorno à instituição de tudo que arrecada. Embora tal fato já ocorra com outras instituições não vem sendo praticada com as instituições vinculadas ao MDIC. O fato de ocupar uma posição de direção no Inmetro me impede, do ponto de vista ético, de atuar de forma mais eficaz na defesa da instituição pela sua importância estratégica para o país. Após a exoneração poderei escrever artigos fazendo menção ao problema. Quarto, a minha discordância, explicitada em várias mensagens que enviei à Presidência do Inmetro, com a decisão tomada de realizar cortes em bolsas de pesquisadores e técnicos, que com grande esforço conseguimos atrair para a instituição. É sempre muito custoso e lento atrair lideranças científicas e jovens doutores para uma instituição nova. Destruir o que foi feito é sempre muito rápido e fácil. Mais penoso ainda tem sido conviver com o cancelamento de bolsas em pleno vigor, o que vai contra os princípios básicos de respeito a termos de outorga assinados, que a meu ver representam contratos que uma instituição estabelece com os bolsistas. Praticamente todas as instituições científicas optaram por realizar os pesados cortes a que também foram submetidas em áreas de atividade meio, preservando as de atividade fim. Algumas destas estão inclusive absorvendo bolsistas que estão saindo do Inmetro.
Por fim quero agradecer o apoio e compreensão de todos.
Abraços,
Wanderley de Souza