As consequências do processo batizado de Lava Jato não resolverão os problemas fundamentais do Brasil, nem nos livrarão dos gargalos que dificultam o desenvolvimento e acirram injustiças sociais. Mas oferecerão, aos que vierem depois, melhores condições de defesa do erário e de combate à corrupção.
E contribuirão mesmo para o processo democrático ao acenar com o fim (redução, sejamos mais precisos) da impunidade daqueles que sempre se julgaram acima das leis.
Esse processo não pode, porém, perder-se em exibicionismos de força, na cretinice de prender quem já está preso, na coação aos detidos e seus defensores, na indução e no uso político da delação premiada.
Não pode se perder também no vazamento seletivo de depoimentos, na escolha de veículos de imprensa para a divulgação de suspeitas e transformar junto ao povo essas meras suspeitas à espera de apuração em fatos reais, condenando o acusado antes do julgamento.
E, acima de tudo, não pode, em nome de uma boa causa, contribuir para insegurança jurídica, turbulência institucional e desorganização da economia, que precisa voltar ao normal e retomar a produção.
Mantenham-se na cadeia os “capi” que forem julgados culpados, mas sem destruir empresas nacionais, desempregar trabalhadores e reduzir a nada o conteúdo local de nossa indústria. Cabe ao governo promover sem medo a reestruturação das empresas investigadas, a recapitalização da Petrobras e o reforço do papel desenvolvimentista do BNDES, sem o qual não retomaremos o investimento privado.
As apurações devem ser um episódio, e não um processo sem fim, ameaçando a sobrevivência de setores fundamentais de nossa engenharia, sem os quais não teremos desenvolvimento. Poderemos até ficar livres da inflação e dos deficits públicos, mas não passaremos de um grande Porto Rico.
O fato objetivo é que vivemos crise política sem precedentes desde a queda do regime militar. Se não está à vista uma ameaça insurrecional, está presente o impasse político trazendo consigo a insegurança governativa, que atinge o país.
Para essa promessa de caos age de forma diligente o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), valendo-se da crise representativa do Poder Legislativo, crise da qual, aliás, sua própria ascensão é o maior indicador, para um confronto de ordem pessoal com a presidência da República e a essa insanidade assistem, passivos, os partidos.
Partidos do campo da esquerda e até os da base do governo fogem de seu dever político de defesa da presidente Dilma e de seu mandato, enquanto o PSDB, e seu derrotado candidato, pregam, irresponsavelmente, a ruptura constitucional ao apelarem para a esdrúxula convocação de novas eleições. A pregação desse golpismo não contribui para a saída da crise, apenas a aprofunda.
Esse quadro expõe a mediocridade de nossas lideranças políticas, pequeninas, presas no entorno de seus projetos pessoais, mesquinhos, sem qualquer visão de Brasil, sem qualquer consciência de destino, carentes de perspectiva histórica. Alimentam um impasse ao cabo do qual não haverá vencedores.
Sairemos vencidos, mortos nossos sonhos, distantes nossas utopias como a linha do horizonte. A mediocridade faz sua festa.
A nação, cansada, reclama por uma saída, nos marcos da democracia e consoante a soberania do voto popular, mas sempre comprometida com a retomada do desenvolvimento, com distribuição de renda, com os avanços sociais e a preservação dos direitos dos trabalhadores.
Roberto Amaral
Fonte: Folha de São Paulo