A ocupação militar é uma total conversa para boi dormir, porque as Forças Armadas nāo têm nenhuma competência para lidar com a criminalidade e com a violência. São os pretos e pobres que vão pagar essa conta.

O Rio de Janeiro está submetido a uma ocupação militar. À guisa de lutar contra a violência e a criminalidade, dez mil homens transitam e ocupam as ruas daquele estado. Sob o pretexto de lutar contra a violência e a criminalidade.

É uma total conversa para boi dormir, porque as Forças Armadas nāo têm nenhuma competência para lidar com esses problemas. É preciso lembrar que, no Brasil, uma pessoa foi morta a cada dez minutos, perfazendo o número de mais de 53 mil homicídios no Brasil.

O Rio de Janeiro é, com São Paulo, campeão imbatível mundial das execuções de suspeitos e criminosos pelas polícias. Entre 2009 e 2013, onze mil pessoas foram executadas pelas polícias.

O governo anunciou que as Forças Armadas nāo vão só fazer policiamento ostensivo, quer dizer, ficar passeando com os tanques na rua, porque à noite elas precisam dormir, uma autoridade mais cautelosa informou.

Mas, anuncia-se que elas vão lutar, vão investir contra os arsenais e os centros de tráfico. O que é absurdamente uma grande bazófia, porque esse enfrentamento só pode ser feito através de um trabalho cauteloso, cuidadoso de infiltração nas organizações criminosas, e inteligência.

Havia uma política em relação à criminalidade, com vários defeitos e algumas limitações, hoje praticamente abandonada, porque o estado do Rio de Janeiro nāo conseguiu dar nenhum apoio de política social a essas atuações contra o crime, que foram as UPPs nas comunidades.

O que vai ocorrer efetivamente com essa ocupação militar no Rio de Janeiro? Os chefes, os grandes chefes do crime organizado estão gargalhando com esse exibicionismo das Forças Armadas no Rio de Janeiro.

Quem vai pagar essa intervenção são as classes populares, são os afrodescendentes, os habitantes das comunidades, são as vítimas dessa incursões pela polícia e o alvo predileto das violações de direitos humanos, que fatalmente vão ser cometidas porque essas Forças Armadas, indo na direção da polícia, não reconhecem nenhum direito dessas populações.

Então, é necessário que os universitários, os centros de pesquisa, a sociedade civil denunciem esse logro da intervenção militar no Rio, que nāo tem nenhuma possibilidade de ser traduzida em uma política pública contra a violência e a criminalidade no Brasil.

Muito obrigado.

*Paulo Sérgio Pinheiro é cientista político, ex-secretário de direitos humanos e foi membro da Comissão Nacional da Verdade.