por: Valton de Miranda Leitão

O grande teórico da mentalidade capitalista foi Adam Smith que em 1776 escreveu sobre a natural ganância e incapacidade para qualquer tipo de consideração moral que o ser capitalista deveria ter em relação ao outro. Smith via isso como uma virtude própria do funcionamento do mercado a ser equilibrado através de uma suposta Mão Invisível, capaz de levar aos extratos inferiores da sociedade, o produto da riqueza acumulada pelo capital.

A teoria econômica, política, social e psicológica de Smith é absolutamente coerente com a mentalidade e a cultura criadas pelo mercado capitalista moderno. Marx não nega essa condição estrutural, mas afirma que somente é possível romper com a exploração capitalista do trabalho da maioria da população, através da luta entre a classe dominante e as classes dominadas.

Analisar o extraordinário poderio da dominação conservadora no mundo e no Brasil é exigência para compreender o fenômeno estrutural da corrupção e da mentira no interior desse sistema. A mentira não é simples retórica, pois fazendo parte de qualquer funcionamento político, ganha notável dimensão no contexto mundial dos monopólios empresariais. O volume de mentiras e falsificações acobertados pelo sistema midiático mundial representa a natureza estrutural e estruturante do processo corruptor dentro do mercado global.

Do mesmo modo, como não existe política sem inimigo, não há mercado sem fraude, espionagem e mentira sistemática. Isso não é retórica de esquerda, pois se encontra publicado na imprensa europeia “Le Monde” e nos sites Lux Leaks, que relacionam as 300 maiores empresas europeias praticantes sistemáticas de fraudes, espionagem e sonegação. A sonegação no Brasil é estimada em 300 bilhões ano, que a nossa sacrossanta imprensa não divulga. O economista Francês Thomas Piketty descobriu agora o que todos os marxistas sabem desde 1848, o aumento da pobreza no mundo.

Merleau-Ponty diz que o artista é aquele que vê o que só ele vê quando olha o que todo mundo olha. Piketty vê o que todo socialista já viu, desde quando Marx publicou O Capital. A imprensa mundial e nacional festeja esse neokeynesiano como se fosse uma grande novidade!

Aliás, o problema da grande imprensa no Brasil é realmente escandaloso, porque está sempre pronta a festejar aqueles que se colocam no espaço do conservadorismo. Diz Requião em recente pronunciamento que “os super-ricos brasileiros têm a quarta maior fortuna do mundo em paraísos fiscais. São mais de um trilhão de reais, cerca de um terço de nosso PIB, esse mesmo PIB cuja anemia nos últimos anos a mídia, a oposição e a nossa indignada burguesia tanto tem criticado”.

O homem tem natural capacidade falsificadora e simuladora na luta pela sobrevivência, mas no capitalismo de consumo isso adquiriu dimensão cultural que a ganância assume condição camaleônica para aumentar o patrimônio até o infinito. A cobertura de mentiras que sobrenada esse processo é o maior mantenedor da corrupção estrutural do moderno mercado capitalista. A função do capital é o lucro e seus fatores são a espionagem e a mentira.