O assessor da Presidência da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, vê uma tentativa de “privatização da política externa” e uma “obsessão pelo livre comércio” nas propostas de seus adversários eleitorais para essa área. Ele rebate as críticas do PSDB, que acusa os três governos petistas de ter adotado um viés ideológico nas relações exteriores, com a mesma moeda.

“Quando essas críticas surgem, vou tentar descobrir quem são os críticos. O que eu não posso admitir é que gente com ideologia, filiação partidária e, muitas vezes, interesses econômicos ou comerciais queira, em nome de uma política externa privada, dizer que a política externa dos governos Lula e Dilma não corresponde e nem se ajusta ao interesse nacional.”

A aproximação com os países da América do Sul nos 12 anos de governo do PT, segundo Marco Aurélio, obedece à visão de um mundo que caminha para a multipolaridade, no qual é mais interessante a região se inserir como um polo único, e não a partir de estratégias isoladas. Ele faz questão de lembrar, no entanto, que o Brasil mantém “relações equilibradas” com todos os países vizinhos.

“Fizemos algumas opções, como a de fortalecer os nossos laços com a América Latina, e a América do Sul de forma particular. Não por qualquer preferência ideológica por esse ou aquele país, até porque eles são governados por presidentes das mais distintas sensibilidades políticas, da direita à esquerda”, afirmou.

Para o assessor presidencial, a insistência na cobrança por mais acordos de livre comércio denota “obsessão ideológica”, que nem sempre tem o respaldo do conjunto da iniciativa privada. “O livre comércio não é uma prática econômica neutra. Corresponde, objetivamente, a uma opção ideológica. Aqueles que defendem uma liberalização absoluta do nosso comércio, voltando a cânones do século XIX e ignorando um pensamento já sepultado pela Cepal no século XX, privilegiam certos interesses privados. Não acredito que isso seja um bom caminho. Toda uma concepção de negociações comerciais que têm origem na aceitação e no estímulo à proposta da Alca, em determinado momento, ilustra essa visão.”

Não que o Brasil, segundo Marco Aurélio, deva menosprezar novos acordos. Ele garante que, em caso de reeleição de Dilma, há forte interesse em avançar nas negociações com a União Europeia. Só ressalta que foram os europeus – e não o Mercosul – que não tinham uma proposta pronta para sentar-se à mesa. Ele disse ter ouvido pessoalmente do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e da premiê alemã, Angela Merkel, que a UE ainda não tinha sua oferta concluída. “São duas personalidades insuspeitas e nos disseram isso aqui em Brasília.”

Marco Aurélio observa ainda que, diante da crise mundial, tendências protecionistas vêm ganhando força e grandes acordos comerciais não têm avançado. “Para ser muito franco, não tenho visto nenhuma negociação bilateral produzindo grandes efeitos nos últimos anos”, afirmou o assessor presidencial, referindo-se à Parceria Transpacífica e à Parceria Transatlântica – negociações que envolvem as maiores potências globais. “São grandes negociações celebradas pela oposição, mas que não estão gerando resultados aparentes, como consequência da crise.”