por: Roberto Saturnino Braga

Meu querido Brasil tem um preso político.

Depois de uma luta de vinte anos para restabelecer a democracia, ela foi mais uma vez golpeada.

Submetido a um processo político que se iniciou ainda no primeiro semestre de 2014, com a espionagem estrangeira sobre a Petrobras, nosso maior líder político, de envergadura internacional, que foi o único Presidente da República depois de Vargas que cuidou com prioridade do ataque à imoral injustiça social que é a grande nódoa da sociedade brasileira e seu maior obstáculo no processo de desenvolvimento, nosso maior líder, o Presidente Lula recebeu ordem de prisão, por supostamente possuir um apartamento e um sítio cuja propriedade não é dele.

Juridicamente, ou inocentemente, parece um absurdo, mas politicamente não é.

Lula, sua sucessora Dilma e seu partido PT cometeram graves ofensas ao poder do Grande Capital, que domina e rege o mundo ocidental. O Brasil, sob sua gestão (de Lula), descobriu imensas reservas de petróleo e pretendeu que a sua exploração fosse feita sob o controle da grande empresa brasileira, a Petrobras, que conseguiu dominar a melhor tecnologia e localizar a jazida. Ao mesmo tempo (de Lula), as empresas brasileiras de engenharia se projetaram no mundo com reconhecida competência e passaram a ganhar grandes obras antes sempre contratadas com empresas do Grande Capital. O Brasil, sob sua gestão (Lula), aproximou-se mais dos vizinhos sulamericanos e naturalmente liderou um processo de emancipação do subcontinente; fez crescer muito, ademais, sua presença internacional na África e na Ásia, chegou a coordenar, com a Turquia, um acordo com o Iran sobre seu projeto de energia atômica, acordo anulado pelo Grande Capital e logo em seguida realizado nas mesmas condições mas sem a nossa participação; o Brasil aliou-se a outras grandes nações dos BRICS para criar um Banco Mundial a e um FMI alternativos, que se dedicassem, com novas políticas, a uma ajuda mais efetiva para o desenvolvimento dos países pobres. O Brasil procurou, ainda, desenvolver, em acordos com a França e com a Suécia, estratégicas tecnologias militares de ponta (submarinos e aviões), com desdobramentos largamente aproveitáveis para o avanço decisivo da sua indústria. Enfim, sob a sua gestão (Lula, Dilma, PT) o Brasil começou a ficar um país importante no mundo, desvencilhando-se da tradicional condição de quintal do Grande Capital.

Isso era, no mínimo, um grande atrevimento. Não era absolutamente permitido no perigoso jogo de poder mundial. O processo tinha de ser revertido e o País castigado pelo seu atrevimento, pela sua ofensa. A grande empresa de petróleo, a Petrobras, devia sofrer danos catastróficos e ser desmoralizada, o mesmo acontecendo com as empresas brasileiras de engenharia que cresciam no mundo. Para um castigo mais eficaz e preventivo, devia se desmoralizar toda a Nação Brasileira, todas as suas instituições, aos olhos do mundo e dos próprios brasileiros.

Havia agentes brasileiros competentes e preparados para o golpe; havia a mídia toda comprada; havia o decantado saber da CIA e o projeto testado com êxito no Paraguai, projeto de um golpe não mais militar mas político-jurídico, muito mais disfarçado e apoiado pela classe média urbana, que era sempre uma aliada em potencial, fascinada pelas realizações suntuosas do Grande Capital.

O pretexto, a força motriz mobilizadora para o golpe seria a corrupção, a mesma de sempre, desde Getúlio Vargas com o “mar de lama”. A velha corrupção que os subdesenvolvidos não sabem praticar com a habilidade dos ricos, fazem-na muito mal.

E, pronto, aí está: consumado com pleno êxito; com a prisão de Lula fecha-se o ciclo do golpe, cumprem-se os objetivos: dilacerar a Nação Brasileira, tomar o seu petróleo e reduzi-la à histórica condição de quintal. Os brasileiros amantes do Norte, que importam esperma americano, abrem garrafas de champagne.

O povo custa um pouco mas compreende tudo, fica com raiva e lamenta: que falta faz Leonel Brizola!
Eu faço refrão com o lamento do povo, deploro muito a ausência de um Brizola, e com a minha vivência acrescento outra lástima: que falta também faz um General Ernesto Geisel!

E relembro, com muita nitidez, a figura sábia e modesta do deputado mineiro Francelino Pereira, perplexo na indagação que ganhou manchetes durante a ditadura: meu Deus, que país é este?!