Viana: “Chegar numa hora de crise como essa e fazer política de uma forma que afronte o que a sociedade busca é cavar a própria cova”

Viana: “Chegar numa hora de crise como essa e fazer política de uma forma que afronte o que a sociedade busca é cavar a própria cova”

Em entrevista ao jornal O Globo veiculada, nesta segunda-feira (23), o vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), além de criticar a pauta conservadora oriunda da Câmara dos Deputados, também comentou a situação do presidente daquela Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que sofre processo no Conselho de Ética.

O senador disse esperar um posicionamento ético dos colegas do PT que compõem o Conselho e tem poder de voto no processo de cassação sofrido por Cunha.

“Ser ético é ser justo. Defendo que ajam no conselho com justiça. Não é um conselho de articulação política, é um conselho de ética. No conselho, é para votar com ética. Ou então, eles que saiam do conselho”, defendeu, em trecho da entrevista.

Para Viana, qualquer tipo de articulação política no processo sofrido por Cunha, para ajudar a salvar Eduardo Cunha e que conte com a participação de parlamentares petistas, ajuda a decepcionar muitos daqueles que ainda teimam em ser simpatizantes do PT.

“O PT tem que se reinventar depois desse processo todo. Chegar numa hora de crise como essa e fazer política de uma forma que afronte o que a sociedade busca é cavar a própria cova”, salientou.

Além disso, o senador disse que “não dá mais” para a Câmara continuar com pautas conservadoras que remetem ao século XIX.

Leia a íntegra da entrevista:

‘Fazer política numa hora dessa é cavar a própria cova’ – O Globo

Contrário à operação do Planalto para preservar Eduardo Cunha, o vice-presidente do Senado, o senador Jorge Viana criticou o colega de partido, deputado Léo de Brito (PT-AC), que faltou à sessão do Conselho de Ética na quinta-feira, quando seria analisada a admissibilidade do processo contra o presidente da Câmara. O senador, que viajou ao lado de Léo de Brito na quinta-feira para Rio Branco para evento com o Ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, disse que orientou o deputado a agir de forma ética no conselho e que, se soubesse que a viagem ao estado coincidiria com a sessão do colegiado, teria dito que ele ficasse em Brasília.

O que o senhor achou de deputados do PT terem ajudado a esvaziar o quórum do Conselho de Ética na última quinta-feira?

Já achei estranho o fato de eles terem chegado atrasados na sessão. Esse tipo de coisa ajuda a desencantar e decepcionar muitos que ainda teimam em ser simpatizantes do PT. O PT tem que se reinventar depois desse processo todo. Chegar numa hora de crise como essa e fazer política de uma forma que afronte o que a sociedade busca é cavar a própria cova.

Como defende que os petistas devem atuar em relação a Eduardo Cunha no colegiado?

O PT já tem problema demais para arrumar mais um. Espero que os companheiros do PT lá no conselho sejam éticos. Ajudar o Eduardo Cunha é querer chamuscar ainda mais um partido que está sofrendo, sangrando. Ser ético é ser justo. Defendo que ajam no conselho com justiça. Não é um conselho de articulação política, é um conselho de ética. No conselho, é para votar com ética. Ou então, eles que saiam do conselho.

O senhor deu alguma orientação ao deputado Léo de Brito sobre como agir no caso?

Se eu soubesse dessa sessão do conselho, teria dito a ele que era importante ficar em Brasília para a sessão. Alguns dias antes, ele foi me perguntar sobre como deveria agir em relação ao caso do Eduardo Cunha e eu disse: “seja ético”. “Se você, que é jovem e professor universitário, não fizer isso, vocês que se expliquem à sociedade depois”.

O senhor acredita que houve interferência por parte do governo para que os deputados do PT ajudassem Eduardo Cunha no Conselho de Ética para evitar o impeachment?

Não sei e não teria como saber, porque comigo eles não têm nem coragem de fazer qualquer abordagem.

Como vê a permanência de Eduardo Cunha no cargo, após as denúncias e o episódio de quinta-feira?

A Câmara precisa superar isso. Não quero me intrometer em questões internas da Câmara, mas continuar com essas pautas conservadoras do século XIX, não dá mais.