Nada que ocorre na política é fruto do acaso. Pois acaso ( e muito menos inocente) não é a campanha dos grandes meios de comunicação de massa, brasileiros, construindo a visão catastrofista de nossa economia e do país. As razões dessa sistemática campanha de descrédito estão em nota do Valor (23.11): a desnacionalização da economia, com a compra de nossas empresas a preço de banana.

Ora, se a economia vai explodir, se o pais vai pro brejo, o valor das empresas cai, e se cai é hora de os grupos estrangeiros comprarem, na bacia das almas. Ou seja, a campanha é para que o os preços das empresas brasileiras caiam, e é preciso que eles caiam para que, sendo o menor possível o peço dessas empresas, os lucros das multinacionais, comprando-as, seja o maior possível. Tudo operações casadas. Mas os investidores estrangeiros seriam tão estúpidos ao ponto de jogarem seus dólares em um pais falido? Como explicar que a Coty tenha investido 3,8 bilhões de reais na compra do setor de cosméticos da Hypermarcas? Como explicar que o grupo americano private equity Advent tenha investido 2 bilhões de reais em nosso país, em 2015? Jogando dinheiro fora? Não, eles jogam no descrédito programado das empresas brasileiras e de nossa economia. O descrédito — deprimindo o valor das empresas aqui instaladas— atende aos interesses do grande capital, ao serviço dos quais estão nossos jornalões e revistonas.

Nizan Guanaes permanecerá à frente do Grupo ABC por mais cinco anos

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Em recente evento em Nova Iorque, o diretor-executivo do Bradesco registrou a existência de 70 empresas e mais de 200 investidores com ‘grau de interesse enorme’ no Brasil. Afirma “Está todo mundo de olho no Brasil”(Valor, 20.11).

Eis a matéria do insuspeito Valor (o mais autorizado jornal de nossa alienada classe dominante):
“Mais barato, Brasil atrai capital de fora

As empresas brasileiras estão mais baratas hoje do que já estiveram em muitos anos, oferecendo aos caçadores de pechinchas oportunidades de fazer aquisições de primeira linha.

Mas os investidores estrangeiros parecem mais entusiasmados com as perspectivas do país que os próprios brasileiros, muitos dos quais estão apreensivos com a turbulência política e o agravamento da desaceleração econômica.

Até outubro, investidores internacionais ­ como a Coty Inc., que pagou US$ 1 bilhão pela unidade de produtos de beleza da Hypermarcas ­, fecharam 285 negócios de fusões e aquisições no Brasil, 5% a mais que nos primeiros dez meses de 2014, segundo a consultoria PricewaterhouseCoopers. Enquanto isso, os brasileiros fecharam 275 negócios neste ano, 26% a menos que no mesmo período do ano passado”.

É o primeiro ano desde 2000 que empresas estrangeiras fazem mais negócios que as locais, diz Rogério Gollo, sócio e líder da área de fusões e aquisições da Pricewaterhouse no Brasil” (Valor, 23.11).

Valor se esqueceu de registrar o que foi destaque nas edições de seus concorrentes (há mesmo concorrência?) nas edições do dia 21: a comemorada chegada da desnacionalização ao mercado publicitário. Diz a Reuters de São Paulo:

“Gigante multinacional de publicidade paga R$ 1 bi por grupo brasileiro:

O Omnicom Group, segunda maior empresa de publicidade do mundo, concordou em pagar R$ 1 bilhão pelas ações do brasileiro Grupo ABC, confirmou neste sábado uma fonte com conhecimento direto da operação. Os sócios fundadores do Grupo ABC Nizan Guanaes e Guga Valente concordaram em ficar com a empresa de publicidade por cinco anos, segundo a fonte. Sob os termos do acordo, o valor poderia mudar no final desse período por causa de desempenho, afirmou a fonte, que pediu anonimato.>

Guanaes permanecerá à frente do Grupo ABC por mais cinco anos

O Omnicom concordou em pagar pelo Grupo ABC, a maior empresa de publicidade diversificada do país, cerca de 15 vezes os lucros operacionais anuais da empresa com sede em São Paulo, acrescentou a fonte. Um porta-voz do Grupo ABC não quis comentar. Uma mensagem deixada no telefone do escritório de relações com a mídia do Omnicom não foi imediatamente respondida.

Sediado em Nova York, o Omnicom está crescendo no Brasil em meio ao crescente interesse no país de gigantes globais no mercado de publicidade. No ano passado, o Omnicom cancelou um plano de fusão com a rival francesa Publicis Groupe SA, que tem crescido no Brasil com a compra da DPZ e outros ativos”.

Empresas brasileiras viram pechincha com crise do dólar alto

O Globo de 24/11 anuncia “ Pela primeira vez o número de fusões e aquisições promovidas por estrangeiros no Brasil superou o de transações entre partes brasileiras, segundo número da consultoria PwC. Entre janeiro e outubro, os estrangeiros foram os compradores em 51% das operações, com os brasileiros perdendo terreno”. Enquanto vivemos nossa crise, o Brasil está se tornando um prato cheio para investidores estrangeiros. Comemorando a compra da Hypermarcas pela Coty, o empresário paulista Abilio Diniz, que, por seu turno, vendeu, anos passados, o controle acionário do Pau de Acúcar ao grupo francês Carrefour, falando em Nova Iorque para empresários (ainda a matéria do Globo) declara: “o Brasil está em liquidação, muito barato para os investidores de fora”. E esses não se fazem de rogados. Aproveitam. O referido grupo Advent já comprou 13% dos laboratórios Fleury, a Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) e a empresa TI Allied.

As novas investidas e seu alvo

Patrice Etlin, gerente da Advent, é de uma clareza didática: “A gente vasculha sistematicamente o negócio de hospitais [comenta-se seu interesse no Hospital Samartinano, no Rio de Janeiro]. Na educação, estamos usando o nosso investimento na FSG para construir em volta dele o processo de consolidação no setor em universidades médias de abrangência nacional, com entre 5 mil e 20 mil alunos”. Esclarece o bom negócio, como se alguma dúvida ainda existisse: “O valor das empresas teve uma queda colossal”.

Além da queda do valor das empresas brasileiras – sobre o que permanecem silentes a Fiesp, a Firjan e a CNI— o Brasil é, apesar da imprensa brasileira–, um bom negócio. Quem explica é Rogério Gallo, da PwC Brasil, citado pelo Globo: “Em termos de câmbio e para quem pensa a longo prazo, o estrangeiro tem [no Brasil] a chance da década. Com o dólar forte e o Brasil, apesar da crise, ainda sendo um grande mercado, o investidor estratégico que já conhecia o pais aprofunda sua presença”.

A grande festa esta por chegar: os ativos da Petrobras, no que investe diuturnamente a imprensa brasileira, com a solerte cooperação da atual Diretoria da empresa (RA).