Entrevista de Roberto Amaral à Folha de Pernambuco (Repórter Daniel Coelho)

Daniel Coelho – NO QUE VEM, AS ELEIÇÕES MUNICIPAIS SERÃO UM VERDADEIRO TERMÔMETRO PARA O PSB, DEPOIS DA MORTE DE EDUARDO CAMPOS ANO PASSADO. QUAL É O TAMANHO DO PARTIDO HOJE? PERDEU OU GANHOU FORÇA DEPOIS DO FALECIMENTO DE EDUARDO?

Roberto Amaral – A política conhece várias formas de crescimento partidário, uma delas, a mais fácil, é o crescimento aritmético, numérico, soma e subtração, que ignora ideologia e ética. É a mais rápida e aquela que está sendo procurada, dentro do PSB, por uma aliança entre a mediocridade e o ‘pragmatismo’ rastapé. Refiro-me à tríade dirigente que reúne um medíocre absoluto, um pilantra absoluto e um cínico absoluto. Em comum, unindo-os, a repulsa à politica, à ética e aos princípios socialistas que justificaram a fundação do PSB em 1947 e sua refundação em 1985. íCom a morte de Miguel Arraes o PSB perdeu substância e caráter; com a morte de Eduardo Campos corre o risco de crescer pela ausência de caráter, isto é, por não ter substância. Deixou de ser um partido, para reduzir-se a uma sigla, que ora pode receber Roberto Freire, ora pode receber ACM Neto, ora pode apoiar Caiado, ora pode receber a família Bornhausen, ora isso, ora aquilo. Tenho saudades dos tempos de Arraes, que recusou a filiação do Paulinho da Frente. Hoje, esse pelego seria recebido em festas.

Daniel Coelho – A ALA EDUARDISTA DA SIGLA MANTÉM O PRESTÍGIO DENTRO DO PARTIDO OU A CORRELAÇÃO DE FORÇAS MUDOU DEPOIS DAS ELEIÇÕES DO ANO PASSADO?

Roberto Amaral – Mantém, mas por quanto tempo, não sei. Contra ela se articula o bunker paulista (sabidamente um quartel do PSDB) associado aos segmentos mais reacionários, reacionários e aéticos, e medíocres, do Partido de hoje. A fusão tinha por objetivo enterrar de vez a presença de Pernambuco, que sempre foi uma presença ideológica. Felizmente, os companheiros acordaram em tempo de refugar o golpe. Mas outras tentativas virão. A luta interna é fundamentalmente fisiológica.

Daniel Coelho – A APROXIMAÇÃO COM O PSDB SERÁ PERENE? OU O PARTIDO PODERÁ RESGATAR A ANTIGA ALIANÇA COM O PT?

Roberto Amaral – Nada é perene na politica, um jogo de interesses, uma disputa acirrada pelo poder. A adesão ao PSDB permanecerá ativa enquanto a tríade medíocre que de fato comanda o partido detiver as rédeas administrativas do poder. O PSB não deve viver entre uma aliança ou outra, entre PSDB (ou DEM) e PT, mas ter sua própria luz, seu próprio projeto. Esse era o significado da sacrificada candidatura do Eduardo.

Daniel Coelho – HOJE, O PSB CONTINUA UM PARTIDO DE CENTRO ESQUERDA?

Roberto Amaral – Sim, mas, se as bases não reagirem, caminharemos a passos largos para a centro direita, e, a partir dai, o desfiladeiro será inevitável. O convite feito por um ainda dirigente nacional, ao ingresso de ACM Neto, é denotativo do desapreço à ética. A partir daí, tudo é possível e tudo é esperável. Tudo devemos temer e a tudo devemos estar preparadospara reagir. O

Daniel Coelho – ADIAMENTO DA FUSÃO COM O PPS SE DEU PELO TEMOR DE ALGUNS SETORES DO PARTIDO COM RELAÇÃO À POSSÍVEL ALIANÇA COM O PSDB PARA A ELEIÇÃO DE GERALDO ALCKMIN EM SÃO PAULO?

Roberto Amaral – Lamentavelmente, a rejeição não se deu, como eu e muitos companheiros desejávamos, por razões ideológicas; prevaleceu o justo temor pelo controle partidário. Mas, por isso ou por aquilo, o fato objetivo é que a direção foi derrotada. O grave é que a oportuna recusa não estancou a ofensiva reacionária. Novas tentativas de direitização estão a caminho. Quem viver, verá.

Daniel Coelho – O QUE SIGNIFICA A INDEPENDÊNCIA DO PSB?

Roberto Amaral – Todo partido que se preze, deve ter no seu altar o compromisso com a independência política e a fidelidade ao seu programa. Isso é que distingue um partido de uma pura sigla. Hoje, o PSB, mercê da hegemonia paulista (que despreza a política) está posto a serviço da luta interna do PSDB. Ora, isso é muito pouco para o partido de João Mangabeira, Pelópidas da Silveira, Francisco Julião, Miguel Arraes e Eduardo Campos.

Daniel Coelho – HOJE, O PARTIDO É VALORIZADO NO CENÁRIO POLÍTICO NACIONAL?

Roberto Amaral – Sim. Mas, lamentavelmente, a valorização não decorre da firmeza de suas compromissos, mas justamente é o resultado de sua maleabilidade ideológica.

Daniel Coelho – MUITOS QUEREM O PSB POR PERTO NO ANO QUE VEM? A SIGLA AINDA CONSEGUE SE COLOCAR COMO TERCEIRA VIA?

Roberto Amaral – O PSB de hoje, mercê da triade medíocre que o governa, aderindo à direita e ao tucanato, renunciou à possibilidade de apresentar-se como uma terceira via, espaço requisitado pela história. A adesão à direita tem todos os defeitos éticos e políticos possíveis, a começar pela felonia. E tem mais um, a burrice. Renunciando ao espaço livre da esquerda e da centro-esquerda, o PSB, pela sua direção atual, fechou as portas ao seu crescimento politico-ideológico, deixando de ser o receptáculo de todos aqueles que, nos partidos de esquerda e centro esquerda, não se sentem representados. Podendo ser a alternativa à velhaca disputa entre PSDB e PT, optou por ser um apêndice da direita. Esse crime jamais perdoaremos.