por: Wanderley Guilherme dos Santos

Depois de uma sexta-feira pra ninguém botar defeito, passei grande parte da manhã lendo as notícias do CAf.

A reação dos blogues da esquerda e, sobretudo, a nota do PT me deixaram deveras impressionado.

O assunto jurídico está superado. A vitória moral do Fachin é tão relevante quanto minha decisão de não comprar os discos do Lobão. Não altera nada na alternância dos dias e das noites. Persistir nesse “diálogo” entre eles próprios é conversa de médiuns para platéias crentes de que os mortos queridos permanecem zelando por eles e, vez por outra, batendo um papinho com os familiares ainda encarnados.

O caráter dos magistrados não afeta em nada a eficácia das decisões, assim como urna eletrônica não filtra caráter, só votos.

O fato irremediável, irreversível, imexível é que Lula não será candidato, algo decidido em 2016, não agora.

O que agora foi decidido é que o PT não tem como continuar mobilizando o seu eleitorados e apoiadores mediante a possibilidade de uma sessão mediúnica com eficacia sobre o mundo real.

Eleição não é sessão espírita – ainda quando a doutrina do espiritismo seja verdadeira.

A nota do PT é inintelígivel: o que significa, agora, continuar com Lula até o fim? O que quer dizer lutar por todos os meios possíveis até a posse de Lula na Presidência da República?

Vão pegar em armas? E que papel continuará a fazer Fernando Haddad, indo a lugares onde nunca esteve, não conhece a comida local e tem dificuldade de entender a pronúncia? Como irá se apresentar?

A ousada ideia de transferência dos votos de Lula para Haddad conflita com a declaração de ir com Lula até o fim: ou Lula é Haddad ou vice-versa.

Dois Lulas e nenhum Haddad não é promessa a ser levada a sério.

A nota do PT coroa sua falta de noção desde o golpe de 2016: primeiro, o otimismo infundado de que o Judiciário conteria a fúria curitibana; segundo, que o temor das massas enfurecidas impediria os irresponsáveis procuradores da Lava Jato de incapacitarem a vida política de Lula.

O ridículo do powerpoint que passou incólume pela justiça não provocou no PT senão achincalhe, sem perceber a extensão da ousadia da Lava Jato com a complacência do Judiciário; a escuta ilegal da conversa presidencial, motivo de prisão em país democrático, mereceu apenas um pito em Moro, sinal alarmante de que era verdade o que dizíamos desde o início: o alto e médio escalões do Judiciário estão comprometidos com a expulsão da forças populares do circuito legal do poder.

A prisão de Lula sem que o mundo viesse a baixo também não ensinou nada ao PT nem a sua militância fanatizada, com o estímulo de Lula.

O duplo discurso de insultar o Judiciário e a ele recorrer com a linguagem das Vossas Excelências, com derrota após derrota, também não impediu o PT, e Lula, de promoverem a mais profunda e doída divisão nas correntes de esquerda do País.

Hoje, comemoram o campeonato mundial de 6X1 contra, exercitando a linguagem do ódio contra juizes preconceituosos, outros de caráter hesitante, e prometendo arrebatar o Judiciário, o Executivo e a Presidência com o apoio de multidões de almas penadas que, a bem da verdade, mas ignorada pelo PT, não deram as caras.

Continuam acreditando que os rebelados se levantarão das tumbas e apavorarão um Judiciário desalmado. Outra vez, será tudo em vão.

Quando é que o PT e seus militantes pintados para a guerra se darão conta de que só metem medo à própria esquerda dissidente, e apenas por isso, porque é dissidente? O PT e membros estão a um passo de convocarem à mesa da fé o espírito autoritário do antigo Partidão.

O PT e os cronistas de boa fé permanecem na senda de conduzir toda a esquerda ao inferno. Que, ese sim, existe.